Rodovia dos Tamoios: teleférico auxilia nas complexas obras em trecho de serra preservada
Matéria publicada na revista O Empreiteiro (https://revistaoe.com.br/rodovia-dos-tamoios-teleferico/)
Apresenta-se neste trabalho estudo de caso de um projeto pioneiro no Brasil implantado pela Concessionária Tamoios na Rodovia dos Tamoios – SP/099, na altura do km 72+500. Em uma região de difícil acesso e coberta totalmente por vegetação nativa, a construção de um viaduto de 315 m em curva e um emboque de túnel está sendo realizada com uma tecnologia inovadora, o cable crane, que é um teleférico de carga, que transporta insumos, equipamentos e trabalhadores, conduzidos por cabos aéreos, que são sustentados por duas torres metálicas.
Atualmente, encontra-se em andamento a obra de Duplicação da Rodovia dos Tamoios (SP-099) no Trecho Serra, compreendido entre o km 60,48, em Paraibuna, até o km 82,00, em Caraguatatuba. Esse trecho de duplicação fará a transposição da Serra do Mar, dentro do Parque Estadual da Serra do Mar.
A extensão total do novo traçado para a duplicação da Rodovia dos Tamoios – Trecho Serra é de 21,5 km, o qual é constituído por um trecho de cerca de 4 km paralelo à pista existente e mais 17,5 km em traçado novo. Do total, serão 12,8 km em túneis, 2,6 km em viadutos e pontes e 6,1 km em
terraplenagem.
Para a construção do Viaduto 3 e do emboque do Túnel 3 – Lado São José dos Campos, sem a necessidade de abertura de acessos e caminhos de serviço pela mata da região, a melhor alternativa encontrada foi a utilização do cable crane. Os principais objetivos com a introdução desse sistema inovador são a implantação do Viaduto 3 (com tabuleiro de aproximadamente 310 m de extensão e quatro apoios intermediários e dois encontros, um no término do caminho de serviço 1B e o outro próximo ao emboque do túnel T3-4), e implantação do emboque do Túnel 3 4 – Lado São José dos Campos (contenção em solo grampeado de 3.751 m², cortina atirantada de 400 m² e enfilagens).
O projeto foi concebido em conjunto com a Construtora Queiroz Galvão e a empresa austríaca LCS Cable Cranes. A fabricante do equipamento utilizado na obra atua há mais de 20 anos com transporte de cargas em terrenos acidentados.
A empresa já executou mais de 20 projetos nos cinco continentes utilizando o equipamento. No Brasil, é o primeiro e foi dotado de características específicas de engenharia, que tiveram que ser minuciosamente projetadas e planejadas. Movido por motores, elétrico e hidráulico, o guincho iça as cargas e as transporta por cabo de aço por um trecho de 394 m de vão entre duas torres, uma delas com 42 m e a outra com 35 m de altura. A capacidade do sistema é de até 20 t.
Principais características técnicas do equipamento: fabricante
LCS Cable Cranes; origem – Áustria; distância entre torres – 394 m; diâmetro cabo principal – 65 mm; diâmetro do cabo de movimentação – 30 mm; capacidade de carga – 20 t; velocidade de deslocamento – 4 m/s; velocidade de içamento – até 1,5 m/s com 2.000 kg; capacidade da cabine 10 pessoas; altura da torre 1 – 42,1 m; altura da torre 2 – 34,9 m; sistema de controle da operação – 6 câmeras; controle remoto (içamento de carga) – 2 dispositivos.
Devido uma das torres (Torre 1) estar em um lado inacessível, a montagem do cable crane exigiu uma operação complexa, com duração de 120 dias e apoio de um helicóptero. A tarefa contou com o auxílio de quatro especialistas da matriz austríaca, além de aproximadamente 25 funcionários e técnicos da Queiroz Galvão, que passaram pela necessária qualificação.
A Torre 2 foi projetada em módulos, de forma que seus tamanhos não ultrapassassem a capacidade de carga do helicóptero.
Esse helicóptero com capacidade de carga de 3.500 kg foi locado especialmente para fazer a movimentação e encaixe dos módulos que compõem as duas torres, o mais pesado com 3.200 kg. A aeronave precisou fazer 35 viagens com os elementos para a montagem, somente da Torre 1.
Mas antes disso foram realizados vários testes e simulações, para que no dia da montagem tudo corresse de maneira segura e com o máximo de precisão.
As peças foram içadas com um cabo long line preso ao helicóptero, com dois dispositivos: um para possibilitar que a carga fosse solta pelo gancho de baixo e outro próprio para ser utilizado em situações de emergência, caso precisasse ser solto por completo numa eventual necessidade de aliviar a carga da aeronave. Um dos principais desafios na logística de montagem das torres foi deixar o long line no comprimento adequado para manter a exatidão no alinhamento da carga içada. Tudo exigiu muita precisão, paciência e trabalho em conjunto.
O cable crane superou as expectativas nas atividades previstas no plano de viabilidade/operacional tanto em performance como em sua versatilidade de propiciar transporte de equipamentos pesados, insumos, pessoas e grandes volumes de material proveniente de cortes e escavações do Túnel 3.
Com início de operação em março de 2019, pode-se constatar a eficiência do cabo aéreo em todas as tarefas planejadas.
Autores: Mathias Loch, engenheiro civil, e Robinson Ávila,gerente de engenharia